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O sócio e CIO da Távola Capital, Gustavo Constantino, crê que tem muita gente discutindo a alta da Bolsa, mas que é por “medo de ficar de fora”. Segundo ele, o mercado está cheio de “enganos” e os preços nem sempre refletem o valor real. “Tem muita enganação. Parece tourada: passa para cá, passa para lá. A gente precisa se blindar disso com uma leitura mais cuidadosa”, afirmou.
Em entrevista ao programa Stock Pickers, Gustavo Constantino comentou que a disciplina e a calibragem correta das posições são essenciais para atravessar esse cenário, sem cair em armadilhas.
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Antecipar a riscos
Com experiência na tesouraria do Banco IBM, Constantino defende que, mais do que reagir a crises, é fundamental antecipar riscos e estar com o tamanho certo de posição para cada momento. “A forma como você entra numa crise diz muito sobre como vai se comportar durante ela”, destacou.
Ele alertou que decisões ruins costumam ocorrer quando o gestor está com a posição descalibrada — seja grande ou pequena demais. “Se você está grande e leva um contrapé, vai fazer besteira. Se está pequeno e precisa correr atrás do prejuízo, também. Por isso a gente tenta medir constantemente o espaço que tem, a gordura que pode queimar”, explica.
Constantino critica a leitura superficial de preços de ações. “Às vezes o papel cai e não está mais barato. Houve é destruição de valor. E o oposto também: sobe e não ficou mais caro. A arte está em ponderar valor e preço, usar isso como bússola”, destaca.
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Petrobras, Vale e bancos
Ao falar sobre estratégias de hedge, o sócio explicou que uma das primeiras decisões na estruturação do fundo foi ajustar a exposição a pesos pesados do Ibovespa — como Petrobras (PETR3; PETR4), Vale (VALE3) e os bancos — para evitar posições short “escondidas”. “Quase 50% do Ibovespa está concentrado nesses nomes. Se você não ajusta isso, acaba ficando vendido indiretamente em Petrobras ou Vale, mesmo sem querer”, explicou.
A solução foi criar uma carteira net zero partindo do zero e equilibrando as exposições. “Se não temos visão negativa sobre Petrobras ou Vale, preferimos neutralizar. Só ficamos short se de fato acreditarmos que os papéis vão cair”, ressaltou.
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Apesar do grosso do hedge ser feito com índice, a Távola também realiza vendas diretas de ações que acredita estarem fora de preço. “É uma abordagem oportunista. Procuramos empresas com valuation esticado ou trajetória ruim. Mas sempre com convicção e margem de segurança”, afirmou.
Utilidades públicas
Outro ponto quente da entrevista foi o setor de utilities. A Távola reduziu consideravelmente sua exposição ao setor, zerando posições em empresas como Equatorial, Energisa, Coppel e Serena. “Equatorial, por exemplo, é ótima, mas a TIR caiu para 10% ou 11%. Para fazer sentido, teria que estar mais perto de 13%, 14%”, relatou.
Hoje, o fundo mantém posição apenas em Eletrobras (ELET3) e Orizon (ORVR3). “Eletrobras ainda entrega uma TIR de 13,5%. E a Orizon, que não é uma utility clássica, mas está cada vez mais posicionada como empresa de energia via biogás, ainda tem TIR de 14% a 14,5%.”
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Orizon, inclusive, se tornou uma das principais apostas da gestora. A empresa, que começou como operadora de aterros sanitários, diversificou as receitas e hoje atua fortemente em energia renovável com foco em biometano.
“Se tem uma empresa que tira coelho da cartola é a Orizon. A capacidade de reinvestir capital com inteligência é impressionante”, elogiou. Ele destacou que a companhia faz algo raro: “recebe para adquirir sua matéria-prima — o lixo — e transforma isso em energia rentável.”
A Távola mantém a posição desde o IPO da empresa, há quatro anos, e reforça a aposta com base no retorno composto de longo prazo. “Orizon foi uma das que mais nos impressionou na Bolsa. Investiu corretamente, fez captações bem usadas e abriu novas linhas de receita. Para a gente, é caso clássico de geração de valor constante”, concluiu Constantino.