Seja qual for o porte da empresa, um dos aspectos mais importantes a se controlar na gestão financeira é o capital de giro. Ao longo do tempo, diversos estudos já mostraram que a falta de recursos para o giro é uma das principais causas de fechamento dos negócios, pois isso compromete a saúde financeira da organização.
É o capital de giro que permite às empresas cumprir com suas obrigações financeiras – salários, fornecedores, impostos e tudo mais que se relaciona ao dia a dia da operação. Como dizem especialistas, trata-se do “oxigênio da empresa” e, por isso, os gestores não podem nunca negligenciá-lo.
A seguir, mostraremos os principais aspectos relacionados a este conceito – definição, como funciona, importância, como calcular, e assim por diante.
O que é capital de giro?
O capital de giro de uma empresa são os recursos dos quais ela dispõe para manter a sua operação funcionando.
Pense na dinâmica de um negócio. Para vender um produto ou serviço, a empresa precisa montar uma estrutura – comprar mercadorias, ter funcionários, alugar um prédio ou sala comercial, ter internet e telefone, e por aí vai.
Toda essa estrutura deve ser custeada pelo capital de giro, que, por sua vez, está no caixa, no estoque, na conta de clientes e em outros recebíveis.
É fundamental que todo esse contexto seja considerado no plano de negócios da empresa, conforme veremos no próximo item.
Qual a importância do capital de giro?
Basicamente, porque é o capital de giro que garante a saúde financeira da empresa.
Em outras palavras, a continuidade da operação depende do capital de giro. Para continuar vendendo, é preciso pagar fornecedores, funcionários e outros compromissos, assim como é importante assegurar que os estoques e os recebíveis das vendas se transformem em dinheiro no tempo certo – e aí está um dos problemas mais frequentes (e graves) da gestão do capital de giro.
Muitas empresas têm problemas financeiros mesmo com lucro e vendas em crescimento. Isso pode ocorrer quando há demora ou dificuldade para converter estoques e recebíveis de clientes em dinheiro no caixa.
Para entender a importância e os impactos do capital de giro na gestão financeira de uma empresa, vejamos agora dois exemplos – o primeiro, ligado às vendas; o segundo, aos estoques.
Exemplo 1 – Aumento das vendas
Aproveitando a demanda aquecida de fim de ano, uma empresa que fornece alimentação para eventos aceitou pedidos extras. Segundo estimativas do financeiro, para atender os novos contratos, será preciso gastar cerca de 60% a mais do que o habitual com matéria-prima, garçons e demais itens para festas.
Ou seja, a empresa precisará de mais capital de giro para assumir o trabalho adicional. Se ela não tiver esse dinheiro em caixa, precisará negociar algum adiantamento com clientes ou prazos mais longos com fornecedores. Outra saída seria recorrer a bancos para suprir essa necessidade pontual de recursos. Porém, provavelmente essa seria a alternativa mais cara, devido às taxas de juros.
Perceba que o aumento das vendas passa, necessariamente, por mais capital de giro, para que a empresa consiga manter o equilíbrio de seu fluxo de caixa.
Exemplo 2 – Aumento dos estoques
Uma empresa que vende artigos esportivos decidiu comprar 30% a mais de tênis femininos do que o seu normal, para aproveitar a liquidação anual de um fornecedor. Para obter o desconto de 40% nas mercadorias, o valor teve que ser pago à vista.
No entanto, a empresa demorou alguns meses (mais do que imaginava) para vender todo o estoque adicional de tênis que havia comprado. E a maioria das vendas foi a prazo, pois mesmo concedendo desconto, foram poucos os clientes que compraram à vista.
Isso causou um desequilíbrio momentâneo no caixa da empresa, e ela precisou recorrer a uma linha de crédito no seu banco para conseguir pagar os compromissos do dia a dia. Nesse caso, o resultado das vendas adicionais foi praticamente absorvido pelos juros do empréstimo. Ou seja, não valeu a pena ter utilizado o dinheiro do giro nos estoques, pois faltou liquidez para os gastos da operação.
Novamente aqui, percebemos a importância de uma boa gestão do capital de giro. Algo que parecia uma boa oportunidade (tênis com 50% de desconto) acabou se tornando um problema de caixa para a empresa.
Qual a diferença entre capital de giro e lucro?
Como vimos, o capital de giro é a quantia de dinheiro de que a empresa precisa para garantir a continuidade da sua operação. Esses recursos vêm, basicamente, do caixa, do contas a receber, dos estoques, e assim por diante.
Já o lucro líquido é o resultado que a empresa auferiu em determinado período (mês, trimestre, semestre, ano ou outro recorte de tempo). Para chegar ao lucro líquido, é preciso deduzir da receita de vendas todos os custos e despesas do período – custo de produção, impostos, salários, luz, água, internet, Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ), entre outros.
Em outras palavras, o lucro líquido é o valor que sobra para a empresa depois de todas essas deduções. Por sua vez, o capital de giro são os recursos que fazem movimentar o dia a dia da operação.
Como calcular o capital de giro?
O primeiro passo é ter em mãos um balancete atualizado da empresa, ou um controle gerencial de receitas e despesas. Lembrando que mesmo o Microempreendedor Individual (MEI), que não é obrigado a ter contador, deve manter os registros financeiros em dia para que possa fazer uma boa gestão do negócio.
Nesses registros, encontramos os itens que formam o capital de giro, que são as contas do ativo circulante e do passivo circulante da empresa
Alguns exemplos de contas classificadas no ativo circulante são:
- dinheiro em caixa;
- saldo em contas bancárias;
- aplicações financeiras de curto prazo;
- contas a receber de clientes;
- estoques
Por sua vez, o passivo circulante é formado por contas como:
- fornecedores;
- empréstimos e financiamentos bancários de curto prazo;
- salários e encargos sociais a pagar;
- aluguéis a pagar;
- impostos a recolher
Com essas informações, basta aplicarmos a fórmula do capital de giro líquido (CGL):
CGL = Ativo Circulante – Passivo Circulante
Exemplo:
Imagine que, em determinada data, uma empresa tenha os seguintes saldos financeiros:
- dinheiro em caixa: R$ 10.000
- contas a receber de clientes: R$ 80.000
- estoques: R$ 20.000
- fornecedores: R$ 50.000
- salários a pagar: R$ 20.000
- impostos a pagar: R$ 15.000
Nessa situação, o seu capital de giro líquido seria de R$ 15.000, de acordo com a fórmula:
CGL = (10.000 + 80.000 + 20.000) – (50.000 + 20.000 + 15.000) = 15.000
Qual a diferença entre capital de giro e capital de giro líquido?
Na verdade, o capital de giro líquido é mais uma forma de se referir ao capital de giro de uma empresa. Contabilmente, os dois conceitos se referem aos recursos necessários para que a organização funcione durante o seu ciclo operacional, período que vai da compra de mercadorias e/ou insumos até o efetivo recebimento das vendas.
Capital de giro é o mesmo que reserva de emergência?
Não. Aliás, é exatamente ao contrário: misturar os dois conceitos pode prejudicar a saúde financeira da empresa.
A função da reserva de emergência para empresas é garantir tranquilidade em momentos de imprevistos financeiros, como inadimplência ou gastos com algum tipo de sinistro, por exemplo. Por isso, ela deve ser mantida como um recurso à parte do capital de giro.
O que é capital de giro próprio?
Capital de giro próprio é o que a empresa consegue gerar com os próprios recursos, sem ter que recorrer a terceiros. O saldo positivo de caixa, os lucros reinvestidos na operação e o dinheiro dos sócios são alguns exemplos de recursos próprios aplicados no giro.
O que é capital de giro nulo?
O capital de giro nulo surge quando a fórmula do CGL resulta em zero. Por si só, essa situação não é um problema, mas serve como alerta para a empresa, pois significa que ela não tem nenhuma reserva no giro caso venha a precisar de mais recursos para o giro.
Como aumentar o capital de giro?
A principal tarefa da gestão financeira de uma empresa é manter o capital de giro em um nível confortável, suficiente para dar conta do ciclo operacional. Para aumentar o capital de giro, algumas alternativas são as seguintes:
Otimizar o fluxo de caixa
Uma boa gestão financeira passa pelo controle minucioso de tudo o que entra e sai do caixa. Com isso, pode-se identificar quais gastos estão gerando o efeito desejado e quais podem ser reduzidos ou mesmo eliminados da operação.
Negociar com fornecedores
Dependendo do ramo de atividade, é possível conseguir boas negociações junto a fornecedores. Descontos, bonificações, prazos maiores para pagamento, tudo isso favorece o ciclo financeiro e se reflete positivamente no capital de giro.
Realizar uma boa gestão de estoques
O exemplo da loja de artigos esportivos mostrou que uma falha na gestão de estoques pode trazer problemas financeiros para a empresa. Para evitar que o capital de giro fique parado nos estoques, é importante garantir a rotatividade desses itens.
Contar com linhas de crédito adequadas
Mesmo que a empresa opere com capital de giro próprio, é importante ter conta PJ em uma instituição financeira que ofereça boas linhas de crédito, seja para alguma eventualidade ou mesmo para aproveitar alguma oportunidade pontual de negócio.
A XP Empresas oferece diversas soluções de crédito, como antecipação de recebíveis, capital de giro parcelado, ou mesmo crédito com garantia de aplicações financeiras, quando os sócios possuem investimentos na XP.
Dependendo da necessidade e perfil da empresa, haverá uma ou outra linha de crédito mais adequada.
LEIA TAMBÉM: Como escolher a melhor conta PJ? 4 pontos para avaliar